sábado, 28 de abril de 2012

Local simbólico

"O criminoso volta sempre ao local do crime"

Mesmo que não seja por alma do destino, por lá passo todos os dias em que cumpro mais um dia de escola. Aquele local poderia ter ficado na memória de todos os que me tivessem até à data conhecido, poderia fazer com que eu não existisse na memória de todos os que depois da data me conheceram.

Foi com 4 anos, recordo esse segmento no meu dentro como se de um ficheiro protegido se tratasse ao qual a sua eliminação estivesse interdita.

Trata-se de uma rua estreita de piso empedrado e de alguma inclinação na qual passavam dois carros com bastante aperto, num dos lados existia o portão de entrada de uma casa, inserido num enorme muro de pedra, do outro lado um armazém. Eram ambos pertencentes ao mesmo dono, o mesmo que iríamos visitar. De outras tantas vezes que lá fora com o meu pai, sempre entravamos no portão, mas naquele dia o senhor de alguma idade, ao qual eu perdi o rasto, estava no armazém. Era o dado que eu desconhecia e numa tentativa de demonstrar que já possuía alguma capacidade de auto-suficiência pensei, desde logo, em atravessar a estrada e tocar à campainha do portão primeiro que o meu pai.

Do pensamento resultou um acto imediato, não podia deixar escapar aquela oportunidade, comecei a atravessar a estrada...

"Obrigado..." Foi tudo o que o meu pai pudera dizer naquele momento ao homem que descia a estrada numa carrinha e que se desviara da criança, que não tinha verificado se passavam carros antes de atravessar a estrada, e foi colidir com o muro que cercava a casa.

Hoje, digo eu o mesmo obrigado quando lá passo, estranho pensar que poderia nunca mais lá passar de novo.